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Em 1498, aos 29 anos de idade, Niccolò Machiavelli passa a ocupar uma importante função no governo de Florença, na qual permanece até 1512. Nesse ano, cai o governo republicano da cidade e os Medici voltam ao poder. Em 1513, acusado de participar de um conspiração contra os novos governantes, é preso e torturado. Reconhecida a sua inocência é libertado. Retira-se da vida pública mas acaba prestando certa colaboração aos Medici. É nessa época que escreve O Príncipe. Quando o dá por concluído, em 1515, tem 46 ano. Até a morte, em 1527, aos 58 anos, desenvolverá grande atividade intelectual. Pouco antes de falecer, assiste à restauração da República Florentina,  que irá hostilizá-lo pelos vínculos que chegara a estabelecer com os Medici.

No período da vida de Maquiavel, a Itália atravessa grandes dificuldades, tendo sido invadida pelos franceses, espanhóis, suíços e alemães. Fragmentada em diversos Estados diminutos, dependendo de tropas mercenárias conduzidas pelos chamados condottieri, o país não tinha condições de enfrentar os exércitos invasores, não só mais numerosos como melhor equipados e treinados.

Acreditando poder convencer aos seus compatriotas da viabilidade de seu projeto, entre 1513 e 1521, isto é, em seguida à elaboração da obra que consagraria (O Príncipe), ocupa-se de redigir os Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio.

Tito Lívio (nasceu em 59 antes de Cristo, tendo falecido no ano 17 de nossa era) escreveu uma História de Roma (desde as origens à sua época) composta de 142 livros, dos quais apenas 35 se preservaram. Os grandes ciclos históricos de constituição do Império Romano denominou-os dedécadas, terminologia que Maquiavel ressuscita em sua obra.

A intenção deste último não é entretanto a mesma de Tito Lívio, achando-se plenamente explicitada. De modo algum pretende fazer história: quer reviver aquele passado heróico, apontar as causas de seu perecimento, aproximá-las da situação presente, tudo isto com o fito de incitar os seus compatriotas a aprender a lição e buscar a reconquista de uma época de glória.

Estudando os clássicos e a própria história da derrota de Roma pelas hordas bárbaras, Maquiavel infere que só a constituição de um Estado potente, dispondo de um exército nacional, poderia derrotar os novos “bárbaros”. Conclui Gaetano Mosca: “Mas era necessário encontrar o homem  capaz de realizar este ousado projeto. Espera tê-lo achado em Júlio de Medici, irmão do Papa Leão X, pois que a Caso dos Medici, dispondo de Florença e do Papado, era a mais possante da Itália. Deseja escrever uma coleção de máximas que pudessem permitir a realização de suas grandes aspirações. Este tratado era O Príncipe, que foi de início dedicado a Lourenço de Medici, sobrinho do Papa Leão X e, à vista da morte deste, a Júlio de Medici” (1)

O essencial em Maquiavel consiste na proclamação da autonomia da política. A partir de sua meditação, o Estado não mais está subordinado aos imperativos da moral corrente - o que não deixava de ser uma forma de subordiná-lo à Igreja Romana. Portanto, o Príncipe não pode ser equiparado a uma pessoa comum quando pratica os atos exigidos pelo projeto centralizador. Convém não esquecer que Maquiavel expressa o sonha de reunificação da Itália, que era sem dúvida uma força colossal, como o comprovaria a história subseqüente. (Ver também Príncipe).


(1)   História da doutrinas políticas. Trad. francesa. Paris, Payot, 1996, p. 85. Com a volta dos Medici ao poder, este é exercido por Lourenço II. Após a morte deste, em 1919, pelo Cardeal Júlio de Medici, que obtém a colaboração de Maquiavel. Júlio de Medici seria o Papa Clemente VII.