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Moisés Maimônides é uma das maiores figuras do pensamento judaico, a ponto de que, conforme registra J. Guinsburg, (Do estudo e da oração. Súmula do pensamento judaico. São Paulo, Perspectiva, 1868) no seu sepulcro, em Israel, gravou-se este epitáfio, que traduziria o pensamento de seu povo: “De Moisés a Moisés não houve nenhum como Moisés”.

Moisés Maimônides nasceu em Córdoba, Espanha, sede do governo árabe na província, em 1135. Seu pai era juiz da Corte Judaica local e, entre os ancestrais, encontram-se eruditos renomados. Iniciou seus estudos com o pai, profundo conhecedor do Talmud e, em geral, das conquistas científicas da época.

Quando tinha 14 anos, ascendeu ao poder em Córdoba uma facção maometana radical, para a qual aos infiéis – isto é, cristãos e judeus – só se podia oferecer estas alternativas: a espada ou o exílio. O pai de Maimônides preferiu a segunda, terminando por fixar-se no Cairo. Nessa cidade, Moisés Maimônides tornou-se médico da Corte. Por sua erudição, foi reconhecido como a maior figura do mundo judaico, passando a integrar, também, o restrito grupo de sábios cuja memória o povo judeu cultua.

Na Espanha e em outros países europeus, do mesmo modo que no Norte da África, no século XII procede-se à tradução dos textos gregos, preservados na área da Igreja Bizantina mas esquecidos no Ocidente. Essa circunstância criava grande perplexidade pois a obra, diante da qual todos os eruditos curvavam-se, provinha de autores alheios tanto à tradição judaica como à cristã. Do lado cristão, a Escolástica começa a debruçar-se sobre Aristóteles, o mesmo ocorrendo com os judeus. O desafio consistia em demonstrar que o judaísmo não era incompatível com a razão. Maimônides atendeu de tal forma a esse imperativo que veio a ser conhecido como o Aristóteles judeu.

Maimônides empreendeu uma compilação monumental da tradição moral judaica, levando em conta as contribuições dos diversos sábios que meditaram sobre as situações concretas para delas extrair ensinamentos diretos, no espírito da lei mosaica. A essa compilação Maimônides denominou de Segunda Torá (Mischné Torá). Tornado famoso entre os judeus e consultado sobre questões doutrinárias, teria oportunidade de elaborar outros textos com o propósito de sanar “as angustiosas desorientações reinante na coletividade” e levá-los a “permanecerem fiéis a sua religião, ensinando a seus filhos a grandeza da Revelação no sinal e a certeza da salvação derradeira, mas a abandonarem os cálculos vãos sobre o dia da Redenção e não se deixarem iludir pelos falsos Messias”. O ápice dessas meditações seria a obra a que deu o expressivo título de Guia dos Perplexos, onde se vale de Aristóteles para enaltecer as crenças fundamentais do judaísmo.

Moisés Maimônides faleceu em 1204, aos 69 anos de idade. (Ver tambémGuia dos Perplexos e Mischné Torá).