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O livro é representativo da última fase da obra de Eça de Queirós, tendo sido publicado justamente no ano de sua morte, em 1900. O personagem central – Gonçalo Mendes Ramires – corresponderia não apenas a uma figura marcante dentre as diversas que emergiram das páginas dos seus livros. Na verdade, seria uma autêntica representação da trajetória histórica vivida por Portugal.

Gonçalo Mendes Ramires pertence a uma família que existia no Condado Portucalense, isto é, antes de se haver dissociado da Espanha para dar origem a Portugal. Seus ancestrais participaram de todos os eventos marcantes de sua história: a expulsão dos mouros, as guerras para firmar a Independência; a epopéia dos descobrimentos e a construção do grande império. A propriedade, que restou destes tempos gloriosos, preservou um castelo, conhecido como Torre de d. Ramires, e, por extensão, Gonçalo era chamado de “Fidalgo da Torre”. Tudo isto para acabar melancolicamente, na dependência do arrendatário das terras, submetido a ater-se a orçamento limitado. Os prazeres da vida reduzem-se a extravagâncias gastronômicas e às serestas em que um trovador cantava as façanhas da família. Estas, aliás, estão no centro do livro porquanto Gonçalo Mendes Henrique aspirava alcançar a glória literária pela publicação de uma novela dedicada a um feito heróico de um dos ancestrais.

A trama construída por Eça de Queirós leva o personagem a sofrer pequenas humilhações até que um incidente banal irá permitir-lhe reconquistar o amor próprio, ingressar na política, grande sonho até então acalentado, e mesmo assim preferir o risco de tornar-se empresário na África.

Ainda que se trate de uma espécie de arquétipo da trajetória histórica de Portugal – e de como há de reencontrar-se com a grandeza perdida a partir mesmo das tradições desde logo renegadas por sua geração --, Eça de Queirós é um grande mestre da arte de contar e sabe prender o leitor, diverti-lo e  também conduzi-lo a participar das angústias e frustrações dessa imorredoura criatura: Gonçalo Mendes Ramires ( ver tambémQUEIRÓS, Eça e (A) IlustreCasa de Ramires)