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Victor Cousin (1792-1867) ingressou muito cedo no grupo dos chamados liberais doutrinários (sendo mais conhecidos Guizot e Royer-Collard) que assumiu a liderança da Revolução de 1831 e esteve no poder até 1848. Devido à atuação política perdeu a cátedra sob os ultras e chegou a ser preso na Prússia, quando ali esteve no inverno 1824/25, na condição de preceptor de um jovem nobre, função a que se dedicara forçado pelo afastamento do magistério oficial.

Ao substituir a Royer-Collard na cátedra de História da Filosofia da Faculdade de Letras de Paris e também na Escola Normal, em 1815, era um jovem de 23 anos. Teria oportunidade, mais tarde, de avaliar negativamente essa produção juvenil. Mas desde logo singulariza-se pelo empenho de aprofundar, graças aos próprios meios, a visão da filosofia alemã que começa a ser difundida na França. Proibida por Napoleão, em 1810, aparece, em 1814, nova edição de De l’Allemagne, de Mme. de Stael. A obra de Villers sobre Kant estava mais ou menos esquecida (Filosofia de Kant ou princípios fundamentais da filosofia transcendental, Paris, 1801). Era então um dos fiéis discípulos de Maine de Biran e o freqüentava a exemplo de Collard, Jouffroy, Ampére, etc. Considerava, como os demais parceiros, que o programa fundamental consistia na fundamentação empírica das principais categorias filosóficas, possibilidade negada pelo comum dos racionalistas. Nessa altura, o interesse maior pelos alemães parece deter-se em Leibniz, a quem está devotado o próprio Biran, redigindo, em 1819, o verbete a ele dedicado para a Biografíe Universelle de Michaud.

Deve-se a Cousin ter introduzido na França a compreensão da História da Filosofia. Na verdade, esta disciplina foi criada por Hegel. Antes dele, consistia basicamente na exposição daqueles autores com os quais se simpatizava. Hegel deu certa ordem na matéria, destacando a contribuição dos autores para o aprofundamento da compreensão de determinados problemas. Cousin ocupou-se da disciplina ao longo  de seu magistério, refazendo e ampliando o Curso de História da Filosofia Moderna, que assumiu, afinal, feição definitiva em oito volumes, nos fins dos anos quarenta. A par disto, ordenou e editou a obra de Abelardo, Pascal, Biran, além de haver traduzido ao francês os diálogos de Platão. Formou toda uma geração dedicada ao exame e a edição na França dos principais textos e filósofos, dando preferência, sempre, à difusão das obras dos próprios autores.

Durante o governo de Luiz Felipe (1831-1848), chegou a Reitor da Universidade e Ministro da Instrução Pública. Nesse período, foi considerado como uma espécie de filósofo oficial. A historiografia filosófica de seu país deixou-se influenciar pela crítica que o positivismo lhe dirigiu, tratando-o depreciativamente. Contudo, estudiosos de renome como o neokantiano Victor Brochard (1848-1907), no século passado, e Rodolfo Mondolfo (1877-1976), no presente, reconheceram-lhe os méritos. A recente publicação de sua correspondência com os alemães (Lettres d’Allemagne. Victor Cousin et les hegeliens. Paris, Editions du Lérot, 1990) mostra que Hegel o tinha na mais alta conta. O sistema de Cousin apresenta várias brechas que foram devidamente exploradas por seus opositores, quando chegou o momento de sua superação. Contudo, apoiou-se em dois grandes filósofos seus contemporâneos: Hegel (1770-1831) e Maine de Biran (1760-1824). (Ver também BIRAN, Maine e JANET, Paul).